A criança nasce com uma visão muito embaçada, porém é capaz de enxergar. Os olhos atuam transformando a luz em estímulo nervoso. Este estímulo é conduzido até o cérebro pelo nervo óptico e a imagem é formada no córtex visual, localizado na região occipital do cérebro.
Com um mês de vida a criança deve estar fixando os objetos e aos três meses deve estar seguindo bem os objetos. A partir do quarto mês a visão melhora muito devido à maturação da retina e a melhor capacidade acomodativa (de focalização) do olho. Até o sexto mês é comum observar desvios dos olhos sem, contudo, significar que a criança vai ter estrabismo. A partir do sexto mês, as crianças devem apresentar um bom alinhamento dos olhos e qualquer suspeita de estrabismo deve ser avaliada pelo oftalmologista.
A visão continua a se desenvolver e, quando não existe nenhum problema, a criança atinge uma visão de 100% em torno dos 3 anos de idade. Entretanto, a visão possui potencial de desenvolvimento durante toda a infância, período em que existe a chamada “plasticidade sensorial”. Porém, o estímulo visual nos primeiros anos de vida é mais eficaz para o desenvolvimento da visão do que o realizado no final da infância.
Quando os olhos estão alinhados, temos a ortotropia. Isto indica que ambos olhos estão fixando o mesmo objeto e o cérebro é capaz de fundir as imagens enviadas pelos dois olhos formando uma imagem única, tridimensional. Isto facilita na percepção espacial e de profundidade. Se os olhos estão desalinhados (estrabismo) a percepção de profundidade fica substancialmente reduzida. Além do mais, quando um olho fica desviado na infância, o cérebro suprime a imagem desse olho, e pode causar a ambliopia (baixo desenvolvimento da visão).
As causas de ambliopia são:
1. Ambliopia estrabísmica
Causada pelo estrabismo, principalmente pelo estrabismo presente nos primeiros meses de vida. A ambliopia por estrabismo é o tipo de ambliopia mais frequente. Para evitar a visão dupla causada por olhos mal alinhados, o cérebro ignora a informação visual do olho desalinhado, levando à ambliopia.
2. Ambliopia anisometrópica
Causada pela anisometropia (diferença de erro refracional entre os olhos). Nestes casos, a visão desenvolve bem no olho com o menor grau e não desenvolve bem no olho com o maior grau. Como a criança enxerga bem com um dos olhos, muitas vezes o diagnóstico pode ser mais tardio, depois da infância, o que dificulta o tratamento.
3. Ambliopia por altas ametropias
As ametropias (erros refracionais) do olho são: a miopia, a hipermetropia e o astigmatismo. Essa ambliopia pode ocorrer quando existem erros refracionais muito elevados em ambos os olhos.
4. Ambliopia por privação
A ambliopia por privação é causada por uma opacidade dos meios transparentes dos olhos, o que dificulta ou impossibilita a luz chegar até a retina. A catarata congênita (opacidade do cristalino) impede que a luz chegue até a retina corretamente, impedindo o desenvolvimento normal da visão. O tratamento precoce da catarata congênita é muito importante para permitir o desenvolvimento visual normal na criança. Outras causas de ambliopia por privação são: leucoma (opacidade) na córnea, opacidades no vítreo, ptose palpebral, entre outras.
O tratamento da ambliopia ou a prevenção dela devem ser realizadas o precocemente possível. O tratamento vai variar dependendo da causa do problema e da idade do paciente.
Se a causa for o estrabismo, a primeira medida a ser tomada é a prescrição de óculos, quando necessário, e depois o uso do tampão. Muitos tipos de estrabismo necessitam de correção cirúrgica e o uso dos óculos é independente da cirurgia.
Se a ambliopia tiver como causa o erro refracional, a primeira medida é a prescrição dos óculos. O tampão muitas vezes também é necessário.
O uso do tampão, ou oclusor ocular, deve ser feito sobre o olho de melhor visão, para estimular o desenvolvimento visual no olho mais fraco. É muito importante conscientizar os pais da importância do tratamento para evitar prejuízo na visão dos filhos. Não existe nenhuma atividade, exercícios ou terapia que ajudem a melhorar a visão. O importante é manter o tampão durante todo o tempo prescrito pelo oftalmologista.
Se a ambliopia for de privação, o tratamento tem como objetivo restaurar a transparência dos meios óticos, de modo a permitir que a luz chegue até à retina. No caso da catarata congênita, a cirurgia para a remoção da catarata deve ser efetuada o mais precocemente possível.
O tratamento da ambliopia após o período de plasticidade sensorial, depois dos 10 anos de idade, tem habitualmente pouco sucesso.
*Artigo publicado por Geraldo de Barros Ribeiro – Oftalmologista associado à SMO.