Diretor da SMO participa do podcast Itatiaia Viver Bem sobre o Dia Mundial da Visão

A criança nasce com uma visão muito embaçada, porém é capaz de enxergar. Os olhos atuam transformando a luz em estímulo nervoso. Este estímulo é conduzido até o cérebro pelo nervo óptico e a imagem é formada no córtex visual, localizado na região occipital do cérebro.

Com um mês de vida a criança deve estar fixando os objetos e aos três meses deve estar seguindo bem os objetos. A partir do quarto mês a visão melhora muito devido à maturação da retina e a melhor capacidade acomodativa (de focalização) do olho. Até o sexto mês é comum observar desvios dos olhos sem, contudo, significar que a criança vai ter estrabismo. A partir do sexto mês, as crianças devem apresentar um bom alinhamento dos olhos e qualquer suspeita de estrabismo deve ser avaliada pelo oftalmologista.

A visão continua a se desenvolver e, quando não existe nenhum problema, a criança atinge uma visão de 100% em torno dos 3 anos de idade. Entretanto, a visão possui potencial de desenvolvimento durante toda a infância, período em que existe a chamada “plasticidade sensorial”. Porém, o estímulo visual nos primeiros anos de vida é mais eficaz para o desenvolvimento da visão do que o realizado no final da infância.

Quando os olhos estão alinhados, temos a ortotropia. Isto indica que ambos olhos estão fixando o mesmo objeto e o cérebro é capaz de fundir as imagens enviadas pelos dois olhos formando uma imagem única, tridimensional. Isto facilita na percepção espacial e de profundidade. Se os olhos estão desalinhados (estrabismo) a percepção de profundidade fica substancialmente reduzida. Além do mais, quando um olho fica desviado na infância, o cérebro suprime a imagem desse olho, e pode causar a ambliopia (baixo desenvolvimento da visão).

As causas de ambliopia são:

1. Ambliopia estrabísmica 

Causada pelo estrabismo, principalmente pelo estrabismo presente nos primeiros meses de vida. A ambliopia por estrabismo é o tipo de ambliopia mais frequente. Para evitar a visão dupla causada por olhos mal alinhados, o cérebro ignora a informação visual do olho desalinhado, levando à ambliopia.

2. Ambliopia anisometrópica

Causada pela anisometropia (diferença de erro refracional entre os olhos). Nestes casos, a visão desenvolve bem no olho com o menor grau e não desenvolve bem no olho com o maior grau. Como a criança enxerga bem com um dos olhos, muitas vezes o diagnóstico pode ser mais tardio, depois da infância, o que dificulta o tratamento.

3. Ambliopia por altas ametropias

As ametropias (erros refracionais) do olho são: a miopia, a hipermetropia e o astigmatismo. Essa ambliopia pode ocorrer quando existem erros refracionais muito elevados em ambos os olhos.

4. Ambliopia por privação

A ambliopia por privação é causada por uma opacidade dos meios transparentes dos olhos, o que dificulta ou impossibilita a luz chegar até a retina. A catarata congênita (opacidade do cristalino) impede que a luz chegue até a retina corretamente, impedindo o desenvolvimento normal da visão. O tratamento precoce da catarata congênita é muito importante para permitir o desenvolvimento visual normal na criança. Outras causas de ambliopia por privação são: leucoma (opacidade) na córnea, opacidades no vítreo, ptose palpebral, entre outras.

O tratamento da ambliopia ou a prevenção dela devem ser realizadas o precocemente possível. O tratamento vai variar dependendo da causa do problema e da idade do paciente.

Se a causa for o estrabismo, a primeira medida a ser tomada é a prescrição de óculos, quando necessário, e depois o uso do tampão. Muitos tipos de estrabismo necessitam de correção cirúrgica e o uso dos óculos é independente da cirurgia.

Se a ambliopia tiver como causa o erro refracional, a primeira medida é a prescrição dos óculos. O tampão muitas vezes também é necessário.

O uso do tampão, ou oclusor ocular, deve ser feito sobre o olho de melhor visão, para estimular o desenvolvimento visual no olho mais fraco. É muito importante conscientizar os pais da importância do tratamento para evitar prejuízo na visão dos filhos. Não existe nenhuma atividade, exercícios ou terapia que ajudem a melhorar a visão. O importante é manter o tampão durante todo o tempo prescrito pelo oftalmologista.

Se a ambliopia for de privação, o tratamento tem como objetivo restaurar a transparência dos meios óticos, de modo a permitir que a luz chegue até à retina. No caso da catarata congênita, a cirurgia para a remoção da catarata deve ser efetuada o mais precocemente possível.

O tratamento da ambliopia após o período de plasticidade sensorial, depois dos 10 anos de idade, tem habitualmente pouco sucesso.

 

*Artigo publicado por Geraldo de Barros Ribeiro – Oftalmologista associado à SMO.

O estrabismo significa uma perda do paralelismo dos olhos (dos eixos visuais). O estrabismo pode se desenvolver em qualquer momento durante a vida de um indivíduo. A patologia ocorre entre torno de 4% da população e tem um padrão hereditário, sendo mais comum nas famílias com uma história positiva do problema. Entretanto, muitos casos ocorrem sem qualquer histórico familiar.

Os distúrbios da motilidade ocular raramente são diagnosticados no período neonatal, porque o sistema visual não está bem desenvolvido, o que dificulta a avaliação através da fixação e do seguimento de objetos. O exodesvio (desvio divergente dos olhos) é mais frequente do que a ortotropia (alinhamento ocular perfeito) ao nascimento, possivelmente devido à posição anatômica divergente das órbitas e pelo sistema visual imaturo. Com o crescimento, os olhos vão assumindo uma posição de mais convergência até a ortotropia, sendo que, a maioria das crianças alcança a ortotropia estável aos 6 meses de idade.

Existe também o chamado pseudo-estrabismo, condição comum em crianças que têm a falsa aparência de estrabismo. Devido ao pequeno desenvolvimento do dorso, o nariz tem base plana, com aparecimento de uma pele no canto interno dos olhos, chamada epicanto. Nestes casos, a condição tende a desaparecer com o crescimento da criança, quando a base do nariz se eleva. O pseudo-estrabismo não requer qualquer tratamento.

O estrabismo geralmente se manifesta na infância. Quando se inicia nos primeiros meses de vida, é conhecido como esotropia (desvio convergente dos olhos) infantil e não tem uma causa bem conhecida. Entretanto, existe uma forte relação genética, apesar de ainda não ter sido identificado o gene alterado. Uma hipótese o relaciona a um desequilíbrio de forças entre os músculos extra-oculares e a outra hipótese associa a uma incapacidade do cérebro em fundir perfeitamente as imagens dos dois olhos. Algumas crianças têm estrabismo convergente acomodativo, causado pela hipermetropia, o qual é corrigido com uso de óculos. Outro tipo comum nas crianças é a exotropia intermitente.

Crianças com estrabismo podem ter prejuízo no desenvolvimento visual (ambliopia) no olho não dominante, o que fica desviado com maior frequência. Por isso, precisam de usar o tampão, para garantir um bom desenvolvimento visual dos olhos. O estrabismo é a principal doença que interfere no desenvolvimento visual. Quando a criança não tem problemas no desenvolvimento visual, ela chega aos 100% de visão por volta dos 3 anos de idade. O desenvolvimento visual pode ser estimulado durante toda a infância (período em que existe a chamada plasticidade sensorial), mas os melhores resultados são obtidos quando o desenvolvimento ocorre nos primeiros 3 anos de vida. Existe também o dano estético causado pelo estrabismo, o que pode comprometer a autoestima da criança.

O estrabismo muitas vezes é reconhecido pela população leiga apenas como um defeito da estética fisionômica e cujas consequências são as de prejuízo da autoestima, do relacionamento afetivo e psicossocial. Vários autores condenaram o uso do termo estético no tratamento do estrabismo em tais situações, pois a definição desse termo é aquela que é feita para melhorar ou embelezar. No entanto, o estrabismo é um estado patológico, devido a um processo de doença subjacente, que está associado com a visão binocular anormal e causa também uma alteração na aparência normal que afeta a qualidade de vida.

Quando o estrabismo ocorre no adulto, pela primeira vez, ele produz visão dupla ou diplopia. A criança é capaz de suprimir a imagem do olho desviado, o que não acontece na idade adulta. A supressão da imagem do olho desviado na infância é a causa da ambliopia.

Os principais objetivos do tratamento do estrabismo são garantir um bom desenvolvimento visual em ambos os olhos na infância e alinhamento os eixos visuais para obtenção de visão binocular única, com boa fusão das imagens. Outros objetivos da correção do estrabismo incluem melhora na postura anormal da cabeça, expansão do campo visual, a restauração da acuidade estereoscópica (visão tridimensional), centralização do campo visual, eliminação da diplopia, melhora da motilidade ocular, melhora no desenvolvimento psicomotor e restauração da aparência normal.

O tratamento do estrabismo vem sendo aprimorado e o prognóstico é geralmente muito bom. É sempre importante salientar a importância da prevenção da ambliopia (baixo desenvolvimento visual) na infância no tratamento do estrabismo. Em geral, quanto mais jovem a criança recebe o tratamento, melhores são os resultados. Um melhor entendimento das forças ativas e passivas dos músculos extra-oculares, que coordenam os movimentos oculares, vem trazendo resultados mais satisfatórios e estáveis no tratamento.

*Artigo publicado por Geraldo Barros Ribeiro – Oftalmologista associado à SMO.

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