Tempo seco e saúde ocular: especialista alerta para os riscos da baixa umidade do ar à saúde dos olhos

Clima seco, uso de telas e ar-condicionado aumentam os casos de olho seco no inverno. Período também favorece o aparecimento de conjuntivite

Com a chegada do inverno e a queda na umidade do ar, aumentam os casos de desconforto ocular. A estação mais fria do ano, marcada por clima seco, pode desencadear ou agravar a chamada síndrome do olho seco — condição que afeta a lubrificação natural dos olhos e compromete a qualidade de vida.

Em julho de 2025, o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) voltou a emitir alerta para Belo Horizonte e outras 392 cidades mineiras, com umidade variando entre 20% e 30%, o que já configura estado de atenção, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Segundo o oftalmologista Luiz Carlos Molinari, Secretário da SMO e cooperado da Unimed-BH, o ambiente seco reduz a produção de lágrimas, deixando os olhos mais vulneráveis. “A baixa umidade compromete a lubrificação ocular, provocando sintomas como vermelhidão, coceira, ardência, sensação de areia nos olhos e até embaçamento visual, especialmente no fim do dia”, explica o médico.

Além do clima, o uso prolongado de telas também contribui para o agravamento do quadro. “Quando estamos concentrados em celulares, computadores ou televisores, piscamos menos. Isso favorece a evaporação da lágrima e o ressecamento da superfície ocular”, alerta Molinari.

O especialista destaca que, embora colírios lubrificantes estejam disponíveis sem prescrição, seu uso indiscriminado pode trazer riscos. “Alguns colírios contêm conservantes que podem causar reações alérgicas ou agravar o ressecamento. O uso excessivo pode levar à dependência e dificultar a lubrificação natural dos olhos”, afirma.

Molinari também chama atenção para os grupos mais vulneráveis, como crianças e idosos. “As crianças ainda estão com o sistema imunológico em desenvolvimento e os idosos, por sua vez, podem ter doenças pré-existentes que agravam o quadro. Ambos os grupos são mais suscetíveis à desidratação e infecções oculares”, alertou. Casos não tratados adequadamente podem evoluir para infecções mais graves, como ceratites e úlceras na córnea, com risco de perda da visão. “A córnea é a camada transparente que recobre o olho e é essencial para a visão. Quando comprometida, pode haver danos irreversíveis”, alerta o oftalmologista.

Período também favorece surgimento de casos de conjuntivite

O clima seco, comum no inverno da capital mineira, reduz a lubrificação natural dos olhos e favorece a concentração de poluentes, o que aumenta a incidência de conjuntivite viral e alérgica. A conjuntivite é uma inflamação da conjuntiva — a membrana transparente que reveste a parte branca dos olhos e o interior das pálpebras — e pode ter diferentes causas, sendo as mais comuns a viral e a alérgica. Nos dois casos é importante consultar um médico oftalmologista e evitar automedicação.

Segundo Molinari, a conjuntivite viral é geralmente causada por vírus como o adenovírus e é altamente contagiosa. Costuma começar em um olho e, em poucos dias, pode afetar o outro. “Os principais sintomas incluem vermelhidão, lacrimejamento excessivo, sensação de areia ou corpo estranho nos olhos, coceira, fotofobia (sensibilidade à luz) e secreção aquosa. Em alguns casos, pode haver ínguas doloridas próximas ao ouvido e sintomas respiratórios associados, como coriza e espirros”, explica o especialista.

O oftalmologista explica também que a conjuntivite alérgica não é contagiosa e está relacionada à exposição a alérgenos como poeira, pólen, pelos de animais ou ácaros. “Afeta geralmente os dois olhos ao mesmo tempo e provoca coceira intensa, lacrimejamento, vermelhidão, inchaço nas pálpebras e secreção clara ou gelatinosa. Também pode causar visão embaçada e estar associada a outros sintomas alérgicos, como espirros e nariz entupido, especialmente em pessoas com rinite alérgica”, declara.

Apesar de ambas causarem desconforto, o tratamento é diferente informa o médico. “A conjuntivite viral costuma se resolver sozinha em até duas semanas, exigindo apenas cuidados de higiene e colírios lubrificantes, enquanto a alérgica pode exigir o uso de antialérgicos e controle ambiental para evitar novos episódios”, disse.

Orientações do especialista

A boa notícia é que é possível prevenir os efeitos do tempo seco com cuidados simples e eficazes. Confira as orientações do especialista:

Dicas para proteger os olhos no inverno:
  • Hidrate-se bem: beba bastante água ao longo do dia para manter a produção de lágrimas.
  • Use umidificadores de ar ou coloque bacias com água nos ambientes para aumentar a umidade.
  • Evite exposição direta ao ar-condicionado e ao vento, que ressecam ainda mais os olhos.
  • Pisque com frequência, especialmente ao usar telas, para manter a lubrificação ocular.
  • Siga a regra 20-20-20: a cada 20 minutos, olhe para algo a 6 metros de distância por 20 segundos.
  • Use lágrimas artificiais sem conservantes, sempre com orientação médica.
  • Alimente-se bem, incluindo alimentos ricos em ômega 3, que ajudam na saúde ocular.
  • Use óculos com proteção UV ao sair ao sol, para proteger os olhos da radiação ultravioleta.

Consulte um oftalmologista regularmente, especialmente se houver sintomas persistentes.

A Doença do Olho Seco é um dos diagnósticos mais prevalentes nas clínicas de oftalmologia. Recentemente, foi reconhecida como um problema de saúde pública global, pois traz muitas consequências, desde restrições às atividades de vida diária até custos econômicos de abordagem. Os estudos epidemiológicos dos Estados Unidos identificaram a condição em 5%–30% da população, o que a torna mais prevalente que o diabetes (10,5% da população dos EUA), doenças cardíacas (7% da população dos EUA) e câncer (3% da população dos EUA). É uma doença multifatorial do filme lacrimal pré-ocular com possível dano à superfície ocular. Os sintomas de olho seco variam de simples irritação transitória a desconforto persistente, fadiga, distúrbio visual e instabilidade do filme lacrimal.

Além disso, descobriu-se que sintomas oculares graves estavam associados a dificuldades no funcionamento social, físico e mental. Várias implicações socioeconômicas podem resultar de sintomas de olho seco, como aumento dos custos com cuidados de saúde e diminuição das medidas de qualidade de vida, como dirigir, assistir televisão, usar telefones celulares, ler, trabalhar no computador e bem-estar emocional. O tratamento do olho seco nos EUA foi estimado em US$ 700.000 por milhão de pacientes. Além disso, o custo anual total relatado varia de US$ 270.000 na França a US$ 1,10 milhão no Reino Unido por 1.000 pacientes.

No século 21, muitos comportamentos ambientais se desenvolveram, incluindo o tabagismo e a disseminação de tecnologias como smartphones e computadores. Além disso, a expectativa de vida humana média aumentou e, assim, as doenças crônicas e a ingestão de medicamentos se expandiram. Esses fatores podem ter sido atribuídos ao aumento da porcentagem da síndrome do olho seco em todo o mundo.

Fatores ambientais como poluição, clima e níveis de umidade estiveram ausentes em todos os estudos incluídos nesta revisão sistemática. No entanto, eles foram relatados em outros estudos. Além disso, outros fatores comprovadamente têm uma correlação com o Olho Seco como ômega3, doenças do tecido conjuntivo, radioterapia e deficiência de vitamina A não foram avaliadas.

O sexo feminino parece ser o fator de risco mais eficaz e isso é apoiado por muitos estudos. A alta prevalência de Olho Seco entre as mulheres pode estar relacionada aos efeitos hormonais nos quais os hormônios sexuais, especialmente os andrógenos, afetam as glândulas lacrimais, glândulas meibomianas, densidade de células caliciformes conjuntivais e sensibilidade da superfície ocular. No entanto, dois estudos não encontraram qualquer ligação entre sexo e Doença do Olho Seco, mas sua pesquisa foi restrita a idosos, quando os níveis de andrógenos são baixos em ambos os sexos.

Embora a idade tenha sido significativa apenas em 3 estudos, muitos estudos anteriores relataram sua implicação, pois com o envelhecimento a função da glândula lacrimal reduz e, portanto, aumenta os sintomas de olho seco. Por outro lado, prevalência semelhante entre os jovens em comparação com idosos pode estar associada ao uso de lentes de contato, aumento do uso de computadores e smartphones e cirurgias refrativas, todas associadas ao Olho Seco em muitas pesquisas. Além disso, doenças sistêmicas da população de idade avançada e declínio da sensibilidade ocular podem fazer com que eles subestimem a secura ocular. Os achados dessa revisão sistemática foram consistentes com outros estudos sobre lentes de contato e importância do uso do computador. Um estudo realizado na Austrália não mostrou associação entre lentes de contato e Doença do Olho Seco. Apesar disso, o tabagismo e o álcool não foram fatores de risco significativos na maioria das pesquisas realizadas; alguns estudos relataram sua significância.

Na categoria doenças, anormalidades da tireoide e hipertensão parecem ser fatores de risco para sintomas de olho seco. Vários fatores considerados no olho seco na doença da tireoide: Exoftalmia, lagoftalmo e fissura palpebral aumentada e essa correlação foi estabelecida em. No entanto, há ambiguidade na relação entre tireoide e Olho Seco na literatura. Em relação à hipertensão, aqueles que foram tratados para hipertensão são mais propensos a desenvolver sintomas de olho seco.

Apesar de apenas um estudo incluído nesta revisão ter provado a significância entre medicamentos para hipertensão e Olho Seco, isso foi relatado no estudo de saúde do médico. O diabetes mellitus não foi considerado fator de risco nesta revisão sistemática, o que pode ser explicado pelos resultados de um estudo recente no qual revelou que 65,3% dos diabéticos apresentam neuropatia periférica e redução da sensibilidade corneana leve a grave, os fez subestimar seus sintomas de olho seco. No entanto, o estresse e a artrite não foram comprovados como fatores de risco fortes nesta revisão, muitos estudos demonstraram sua forte correlação com os sintomas de olho seco.

Antidepressivos e anti-histamínicos foram os indicadores mais fortes para sintomas de Olho Seco na categoria de medicamentos. O antidepressivo apresentou-se para aumentar o risco de Olho Seco e é apoiado por outros estudos. O epitélio conjuntival humano contém receptores muscarínicos e adrenérgicos, portanto, há credibilidade biológica de que os medicamentos antidepressivos afetam a superfície ocular. Da mesma forma, anti-histamínicos e esteroides foram associados ao olho seco e muitos estudos estabeleceram esses resultados.

Portanto, o reconhecimento precoce e a prevenção são importantes para reduzir a carga de consequências do olho seco. Por exemplo, a prevenção primária por meio da educação e da eliminação dos fatores de risco pode melhorar os sintomas. Assim, pode reduzir problemas emocionais, psicológicos e funcionais desnecessários.

Atualmente, há uma falta de conhecimento sobre os fatores de risco mais importantes para a secura ocular. Este problema está se tornando importante em todo o mundo, especialmente com o aumento do uso de tecnologia, smartphones, computadores e lentes de contato. Sexo feminino, lentes de contato, uso de computador, anormalidades da tireoide, hipertensão, antidepressivo e anti-histamínico foram identificados como os fatores de risco mais fortes e comuns para a Síndrome do Olho Seco.

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